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Eletrochoque: esclarecer é necessário

Embora apontado apenas como ferramenta de tortura, o eletrochoque, ou melhor,  a eletroconvulsoterapia (ECT) é recomendada e utilizada até hoje em alguns casos psiquiátricos. Entenda como e porque

Antigamente, a eletroconvulsoterapia (ECT) era conhecida como eletrochoque – um tratamento clínico psiquiátrico que promove a indução de uma crise convulsiva por meio de uma corrente elétrica. Parece assustador? Acredite: a eletroconvulsoterapia pode ser importante em alguns tipos de tratamento.

Inicialmente, o método era aplicado em pacientes com quadros graves de esquizofrenia, porém, mais tarde, se fez útil também no tratamento de transtornos afetivos, especialmente a depressão, e em outras circunstâncias específicas. Infelizmente, muitas pessoas foram levadas a associar a ECT com a tortura e até mesmo a uma forma de castigo ou punição desumana. Tais estigmas surgiram pelo mal uso do procedimento em muitos casos, como retrata o filme Bicho de Sete Cabeças.

A ECT existe desde a década de 30, quando foi observado que pacientes com problemas mentais graves e que apresentavam também epilepsia, com certa frequencia tinham melhora após uma convulsão. Foi então que as crises convulsivas passaram a ser provocadas com o objetivo de melhorar quadros de problemas mentais graves e refratários. Em outras palavras: uma convulsão ou crise epilética controlada era induzida, com a finalidade de curar um problema mental.

Como funciona?

A ECT funciona da mesma forma que a cardioversão (o choque no coração), ou seja, assim como acontece com o coração durante a fibrilação ventricular no caso de parada cardíaca, o funcionamento dos impulsos nervosos também é “resetado”. Neste sentido, o cérebro do doente mental é praticamente reorganizado e os circuitos passam a funcionar novamente de forma adequada.

No caso da ECT, a intensidade da corrente elétrica aplicada no cérebro é de 10 a 100 vezes menor em comparação à corrente aplicada no choque da fibrilação no peito. Já a duração do choque é de um a cinco milisegundos, o suficiente para provocar uma crise convulsiva que dura de 40 a 60 segundos.

Qual é a indicação?

A ECT apresenta alta taxa de recuperação para quadros de depressão e esquizofrenia – 60% a 100% sem uso de medicação. Quando trabalhada juntamente com o uso de medicamentos, a taxa de eficácia é de 40% a 60%. A eletroconvulsoterapia também é indicada em quadros cuja melhora deve ser rápida, por exemplo, quando o paciente dá indícios de um possível suicídio ou também apresenta quadros com catatonia. Este último é quando a pessoa não responde aos estímulos do ambiente, sofrendo iminente risco de morte por desidratação e privação alimentar.

Outra indicação para a ECT é no caso da contraindicação do uso de medicações psiquiátricas, como os portadores de doenças cardíacas, renais e/ou hepáticas. Também, em situações nas quais as medicações já não fazem mais efeito mesmo com a correta utilização.

Como a ECT é realizada?

Primeiramente, o paciente passa por uma rígida avaliação médica, incluindo a realização de diversos exames laboratoriais, clínicos e de imagem. Para o procedimento em si, ele é anestesiado como quem vai fazer uma endoscopia, por exemplo. É isso mesmo! Hoje em dia, a ECT não dói, não machuca, não causa sofrimento. É importante saber disso! Aliás, a má fama do tratamento existe também em decorrência da falta da anestesia nos primórdios do método. O paciente recebia o choque acordado, o que gerava um sofrimento inestimável.

Atualmente, pouco antes da realização, a pessoa recebe uma medicação que evita a contração dos músculos durante a convulsão. Antigamente, essa prática também não era adotada, o que causava até fraturas durante a crise convulsiva. No final, a pessoa ainda cumpre um período de recuperação anestésica e parte para novas etapas do tratamento psiquiátrico. A ECT pode ser feita em um hospital ou clínica psiquiátrica, em regime de internação ou ambulatorial – dependendo de cada caso.

Qual o principal mito atualmente?

A ECT não “queima os neurônios” e tem muito menos efeitos adversos do que normalmente se imagina. A consequência que se conhece é uma dificuldade de memória de lembrar coisas recentes, que pode ser de leve a moderada e é quase sempre transitória. Importante salientar que apesar disso, o tratamento pode até prevenir alterações no funcionamento e na estrutura do cérebro causadas pelo curso crônico da depressão, por exemplo.

Por isso, é preciso separar a técnica e a eficácia da ECT dos mitos criados pela má utilização do procedimento. O preconceito vindo de tempos passados não pode mais ser motivo de privação para que pacientes em sofrimento psiquiátrico grave possam recuperar a saúde e ter qualidade de vida. O conhecimento é essencial, procure por um especialista e tire suas dúvidas!

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