Na entrada de um pronto-socorro, numa quarta-feira à tarde, uma jovem desce correndo do táxi.
– Por favor, por favor, eu tô tendo um ataque do coração ! Eu vou morrer ! Não consigo respirar ! Socorro !
A paciente é levada imediatamente pela equipe de enfermagem à sala de emergência.
– Eu não aguento, eu vou morrer, eu preciso respirar !
A paciente é deitada e monitorizada: Pressão Arterial aferida em 130 x 80, Saturação de oxigênio 99%, sem febre, Frequência Cardíaca de 120 (normal até 100). É realizado um eletrocardiograma de urgência. Chega o médico já com o eletro em mãos:
– Boa tarde, sou o Doutor Horácio e….
– Doutor, por favor, eu estou infartando !
– Como você se chama ?
– Aline.
– Você tem quantos anos, Aline ?
– Tenho 24, mas Doutor, o que está acontecendo ? Eu não consigo respirar !
– Aline, você já se sentiu assim antes ?
– Já sim, faz mais ou menos um ano que tenho essa crises. Me falta o ar, me dá um nó na garganta, vem uma sensação de sufocamento, de angústia, um desespero, começo a suar frio e eu acho que vou enlouquecer !
– Certo. E imagino que você já tenha sido avaliada no pronto-socorro outras vezes.
– Sim, Doutor, e os médicos me dizem que os sinais estão normais, que as batidas do coração se aceleram porque estou ansiosa, mas que o eletro está normal e que os exames de sangue estão normais.
– E imagino que já tenham te orientado a investigar, claro, com o cardiologista.
– Já sim, Dr., eu já fui ao cardio e ele disse que não tenho nada no coração
– Aline, você percebe que ao longo da nossa conversa as frases já não estão tão curtas, parece que você já está respirando melhor e que parece estar mais calma ?
– É verdade, Doutor. Então essa é mais uma crise de pânico, né ?
– Vamos fazer alguns exames, mas me parece que sim. E me diga: você já foi avaliada por um psiquiatra ?
– Não, Dr. Os médicos do pronto-socorro costumam me dar alta com Rivotril e eu acabo não indo ao Psiquiatra.
– Você sabia Aline que a gente compara essas crises de pânico com uma panela de pressão ? E que o Rivotril seria aquele pino pra deixar o vapor sair quando a pressão na panela está muito grande ?
– Huuummm nunca me falaram dessa analogia
– Pois então. Pensa comigo: se a pressão está muito alta, não adianta só apertar esse pino pro vapor sair, eu preciso diminuir o fogo ! A mesma coisa vale para as crises de pânico. Se eu não usar um medicamento que trate de fato aquele transtorno ansioso, o paciente fica com aquela pressão dentro dele. O Rivotril ou qualquer outro sedativo não funciona exatamente como tratamento, mas sim como válvula de escape. É como se eu tratasse uma hérnia de disco com analgésico ! Pode até aliviar, mas não resolve a causa da dor.
– Puxa, Dr., ninguém nunca me explicou isso ! Você é psiquiatra ?
– Aline, eu não sou psiquiatra, mas conheço alguns muito bons numa clínica chamada MentalMe. Pode procurar que você vai ser muito bem atendida. Vamos lá pra sala de observação ?
– Vamos sim, Dr., já estou mais calma.
A cena acima acontece todos os dias nos prontos-socorros do Brasil. E a conduta do clínico ali na hora é essa mesmo: investigar se aquela crise de pânico não tem uma origem cardíaca ou pulmonar. Mas na imensa maioria das vezes, é a saúde emocional do paciente que está abalada, ativando uma série de circuitos químicos no cérebro, levando à falta de ar, sufocamento, sensação de uma bola na garganta, palpitações, medo de enlouquecer. Na psiquiatria, a gente estuda não apenas quais são as regiões do cérebro responsáveis por esses “curto-circuitos” emocionais, mas quais são os neurotransmissores envolvidos nas crises de pânico. Aí fica mais fácil entender os sintomas do paciente e pensar no remédio mais interessante para aquela situação.
E você, já teve uma crise de pânico ? Conta pra gente como foi !